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Conhecimento e Graça – Verdade e amor

O contraditório é a semente do conhecimento. Se você não consegue lidar com o diferente você não tem as bases para obter o conhecimento. O absurdo é parte do diferente que é parte do contraditório, essência do conhecimento.

A graça nasce dos limites da dialética, do sofrimento e da dúvida. A graça não está em oposição ao conhecimento. Filha da dúvida encontra no conhecimento a boa direção, pois sem ele fanatiza e se descontrola.

Conhecimento não é informação. A informação é matéria prima do conhecimento, que para desenvolver-se é preciso experimentação e teste. Através do conhecimento e graça encontramos a verdade, Deus.

Deus age como verbo, mas é um substantivo. E o amor? Aonde está? Pra que serve? Está no caminho para a verdade, pois somente ele garante a perseverança necessária para o encontro com Deus. E como o encontramos? Primeiramente é necessário se despir das moralidades, sem fugir ao bom caráter e da cultura como expressão do tempo de uma época. É preciso amansar o julgamento e saber que a estrada correta não é a que vai pra direita ou pra esquerda, mas a que vai pra cima, que constrói com segurança e longevidade. É cultivar o silêncio para concentração, a humildade para a audição, o não saber – a simplicidade para conhecer, agir serenamente com clareza para explicar, contentamento e gratidão pelo exemplo que nos foi dado por aquele que trocou a dor de muitos pela sua própria dor, Jesus cristificado.

O Tempo e o Vento

Este ano aprendi algumas coisas sobre a natureza e com vocês desejo compartilhar este sentimento. O Tempo é vida e o Vento também, mas nascimento e morte, isso é coisa do vento… Do Tempo, vem essa mania de ser primeiro, como o “chincheiro” que com o pó chama o Vento. Este, sem pressa, como que acometido pelo acaso, executa a ópera no bravo com problema de escuta, que como uma puta vende sua história ao capricho do Tempo. O tempo obedece, o vento rompe, o tempo engana, o vento clama, o Tempo é óbvio, o outro desengana. Um cansa o outro espanta, cria, evolui e submete. Revela-se na dor e no autoconhecimento… um sinalizador. O Tempo é entretenimento, a paixão, os colegas e a moral. O Vento é o costume, a disciplina e o desigual, o amor profundo, amizade madura que perdura… O tempo quer… O Vento é… O Vento persiste, o Tempo insiste, ilude e mente. É o poder, a massa que engorda, a vaidade que enrola. O outro como a bigorna, transforma. Um passa o outro fica e ao que tudo indica não está na necessidade, mas confiança. O Vento é pai, mãe e irmãos e antes de tudo isso a sua vocação e talento, a contribuição ao espaço, a solidez do mormaço. E fique esperto, pois também é a doença, a trajédia e a cura, como a água mais pura, o Vento é “Deus”… E o Tempo, ah o Tempo… Ao contrário do Vento que é movimento só distrai…

O buraco e os Elos perdidos da saúde

O buraco e os elos perdidos da saúde
Foi em São Paulo próximo a nova estação do metrô, em construção, que se revelaria aquilo que só se guarda em caixinhas bem fechadas. Fruto provavelmente de algum super faturamento, com o rotineiro sub provimento que, de repente, fez-se um buraco em São Paulo.
Abduzidas foram as casas adjacentes a obra e com elas seguiram algumas almas perdidas. Horas depois do “vácuo” e antes do isolamento viam-se pessoas que tentavam encontrar dentre os destroços aquilo que de maior valor possuíam em suas residências. Lembro-me de um senhor a procura de seus documentos, outro desesperado por rolos de filmes, e uma terceira clamando por suas calcinhas… Se há alguma coisa em que somos diferentes nesta vida está em nossa escala de valores. Valores estes pelos quais devemos conduzir nossas vidas. Ao contrário do “hobie” que praticamos na tentativa de relaxar e quebrar a rotina do trabalho, valores são algo que temos de perseguir com a mesma intensidade que os três procuravam por aqueles objetos ou “elos perdidos”.
Investigando um pouco mais descobri que àquele à procura dos documentos era garçom e frequentador da igreja evangélica. Os filmes tratavam-se de conteúdo familiar, aniversários, encontros natalinos… E a danada da dona das calcinhas? Minha imaginação foi longe…
Foi então que com um pouco mais de conversa, o garçom foi me dizendo que não suportava mais seu trabalho, pois era obrigado a vender aquilo que Deus condenava, bebidas alcoólicas! O cineasta revelava saudades da época que sua família se reunia e que por desavenças particulares e até por disputas de herança, após a morte de seus avós, ninguém mais se encontrou nem nos Natais… Naqueles filmes estavam as melhores recordações de sua vida. Perguntei a ele se tinha constituído família, respondeu que sim, mas que lamentava o fato de que não passamos nem 50% de nossas vidas com as pessoas que mais amamos…
O buraco do metrô, assim como a vida, representa as mudanças súbitas que sofremos. Ao roubar moradias acabamos por lamentar mais pela grandiosidade de pequenos objetos desaparecidos. O “funil” orquestrado por homem e natureza deixava o garçom à procura de seu registro perdido, a ilusão de que um documento de plástico o faria viver uma única identidade de valores em casa e no trabalho, sob um único Deus. Deixava também o rapaz só, com a tristeza agudizada pela ausência de amores, a afetividade familiar que possivelmente não conseguiu reeditar.
E a moça das calcinhas, procurava o quê? Foi quando adentrou em meu consultório a maior de todas as estórias, uma “menina” frágil de 45 anos trazida por uma cliente mais antiga. Queixava-se de uma alergia importante vulvar. Curiosamente ao ser examinada vestia calcinhas de algodão com um conhecido personagem infantil. Foi quando investi com humor na descoberta: “preferes o Pateta ao Mickey, por que não escolheste o rato?” A resposta veio na mesma velocidade: “porque o rato já conheci na minha infância, se chamava pai e era aqui que destilava seu beijo de boa noite”.

Sobre lobos e ovelhas

É singular dentre todas as questões da humanidade, a frenética necessidade que o homem tem em revelar verdades e mentiras. Tão eloquente quanto, são os consequentes rótulos que se seguem dividindo a mesma humanidade entre: honestos e disonestos, bons e maus, pobres e ricos e bonitos e feios. Para mim estas questões são sempre confusas, tem dupla face, em cada perspectiva um olhar diferente… São como mutações só possíveis de definição fotográfica, na velocidade de um flash. E é nesta mesma velocidade que as pessoas decidem, precipitadamente, entram em pânico e a solução normalmente fica pior que o problema. É por este motivo que neste breve texto decidi escrever sobre pessoas e não sobre circunstâncias… O conhecimento sobre pessoas é mais sólido que julgamento sobre as atitudes delas mesmas. E é com este objetivo que me atrevo a dissertar sobre lobos e ovelhas. Predador e presa. Culpado e inocente. Que me perdoem os verdadeiros Lobos e as Ovelhas…

Ovelhas normalmente não conseguem se passar por lobos ao contrário destes últimos, que facilmente se comportam como ovelhas. Pervertendo a ordem natural universal: nascimento, crescimento e morte, antecipam este último elemento aos primeiros. Não é tão difícil reconhecer lobos se passando por ovelhas quando temos tempo e paciência para observação. Os lobos, trabalham encurtando o tempo, urgenciando soluções e determinando diagnósticos, levando medo as ovelhas. No intuito de desgarrarem o bando, tornando as ovelhas presas mais fáceis. Menos numerosos que as ovelhas, não tem o dom da creação, somente o da morte. O encerrar de relações, amizades, famílias e afetos, o amor que liga o grupo de ovelhas. Astutos os Lobos esperam a hora de agir normalmente quando as ovelhas perdem seus líderes-pastores, agindo rapidamente. Não tem compaixão, mas demonstram muita emoção, se parecem com ovelhas, feridas ou isentas – apartidárias, são capazes de deitarem-se ao chão para que o bando passe por cima, como um tapete de falsa humildade. Não se contentam em caçar uma ovelha, deliciam-se com a ruptura do grupo, pois sua verdadeira fome é de vingança. Vingança esta que sua própria inveja e “a-bando-no” cunharam. Lobos são vaidosos, querem do bom e do melhor, só agem por interesse e se afastam quando nada mais tem a ganhar… Lobos acusam sem ofender, ovelhas ofendem sem acusar, não guardam rancor, são movidas pelo momento pelo salto das que lhe antecederam. Devotas ao que lhes foi ensinado agem repetidamente da mesma maneira. Tem seu olhar somente para sua família, não para a matilha. Lobos tem visão estratégica, mas nada criam. Ovelhas são míopes, mas procriam.

Logo ao se depararem com uma situação difícil em que lobos e ovelhas se misturam sem distinção, não tomem decisões precipitadas, lembrem-se que os lobos só são vencidos pelo cansaço e pela fome de não conseguir devorar, destruir a unidade e o amor. A coesão enfraquece o coiote. A convicção no ser bom, arremete para longe atitudes equivocadas e reflexas que este mesmo ser – por hora – com medo dos canibais toma precipitadamente. Coisas que podem ocultar e de palavras que podem ofender. As ovelhas sempre voltam para a sua família, para o seu pastor. Se perdem com a ausência do pastor. E quando não o fazem, passam uma vida envergando lobos em torno de si… As ovelhas transmitem esta noção de unidade e amor para seus filhos… E quando vão embora nos sentimos sem ter com o que nos aquecer…

Germinando

Os germes “modernos” são o abandono, a tristeza, a frustração, a menos valia, a indignação, a injustiça, a desconfiança, o ódio. E, como já vimos, contaminam não pelo ar, mas pelo olhar, através de maus relacionamentos. E o que é um relacionamento mal estruturado? É aquele que atende basicamente mais um indivíduo que outro. E por que são estruturados desta forma? Para que haja uma estrutura desta natureza, é necessário que se dê diferentes pesos aos objetos do desejo. Dinheiro e poder valem mais que tempo e trabalho – inversão de valores – o resultado é mais importante que os meios para consegui-los. Comida virou ponto de referência para extração de energia na sociedade urbana, esquecendo-nos que os relacionamentos também são geradores de energia. Alguns valores urbanos como a solidariedade, são esquecidos, talvez por uma estrutura de transportes, médica e educacional farta. Valores são perseguidos por nós incondicionalmente, sem que observemos nossos verdadeiros desejos. Sofremos todos, poderosos e oprimidos, possuidores e despossuidores. Carregarmos o peso de grandes decisões, adoecermos pelo esforço, desenvolvendo estados de fadiga absoluta, de ansiedade, de câimbras, de sudorese profusa, sem conseguirmos, nem mesmo, manter nossa concentração no trabalho. Obesos que não conseguem reter energia pelo afeto, com uma demanda excessiva, buscam incansavelmente fontes de energia em seus relacionamentos, até esgotarem o amor do outro.

Sentimentos transformam-se em doença crônica, encapsulados numa redoma, sem germinar. Sem serem exercitados no dia-a-dia ou esgotados até o último suspiro, desenvolvem uma atmosfera que apodrece ao longo do tempo, dando espaço para o surgimento de moléstias que agridem o próprio corpo.

Inteligência Emocional e a enfermidade

 

Desde que promoveram a supressão de emoções à condição de símbolo de inteligência, que a enfermidade galopa em nome da velha obediência civil.

Sinval era um funcionário exemplar: não faltava, tinha MBA, não recusava serviço, adequadíssimo, a simpatia em pessoa. Tinha tudo para ser o eleito para a vaga de seu superior. E foi. Quanto mais subia de cargo, mais sapos engolia. Começou com uma leve dor de cabeça as segundas feiras. Procurou um neurologista, que com um exame não tardou a lhe dar a boa notícia:

– Não é nada Sinval…

Tomografia, com efeito placebo, sobre a cefaléia do rapaz.

Um mês depois procurou um gastroenterologista por conta de uma queimação no estômago. Gastrite leve, nada que um remedinho não resolvesse. Seis meses bem, foi ao endocrinologista, diagnóstico: obesidade. Dieta verde, dieta animal, academia e terapias…. Cinco idas ao pronto socorro por dores no peito e de barriga, só um mal estar e “virose”. Duas internações por cólica renal, uma resolvido com a explosão da pedra a outra nem cálculo encontraram… Finalmente decidiu procurar um psiquiatra que não tardou a lhe prescrever um antidepressivo. Momento este, o mais feliz da sua vida…

O empresário seguia feliz com seu bom salário e bom plano de saúde. O custo rateado pelos demais funcionários, não chamava a atenção.

O que não foi dito é que tudo isso era parte de um processo que iria resultar em doença de verdade, Sinval estava enfermo.

A enfermidade é um processo patológico presente ou não na doença. Um sofrimento, na forma de um ou mais sintomas. Ausência de bem estar percebido pelo indivíduo afetado ou por outros. Uma anormalidade de função ou comportamento, na qual a pessoa afetada não pode ser responsabilizada.

O progresso do sofrimento sem o rótulo da doença costuma não ter tratamento correto. O diagnóstico biológico, como princípio do tratamento afugenta a cura…

Finalmente para tranqüilidade dos médicos, que agora sabiam o que fazer e parentes do Sinval, que agora tinham pelo que pedir em suas orações, ele fez um aneurisma.

O que levou Sinval a adoecer?

Acreditem! Nosso sistema produtivo e cultural. A cultura da obediência para a sobrevivência, do valor vinculado a bens materiais como sinônimo de sucesso e prestígio social, das metas intangíveis pelo lucro, da dissimilação em nome da tolerância, da supressão emocional com intuito de diminuir a resistência a projetos individuais e organizacionais, da crítica persecutória voltada ao perfeccionismo utópico e da guerra fria pelo não comprometimento pessoal, estão transformando gente em doente. Uma carga que endurecem articulações, enfraquecem mentes e corações, explodem pequenos vasos sanguíneos, queimam estômagos, alteram menstruações, obstruem intestinos e exaurem corpos que doem…

A necessidade de uma visão de bem comum é urgente. O ser humano clama por boas intenções, negociações ganha – ganha, egos diminutos e inteligência criativa. Respeito total ao outro pela compreensão íntima de nossa fragilidade e interdependência. A percepção que o roubo é o único pecado. Em suas diferentes formas e variações transforma a verdadeira inteligência emocional, a do respeito, numa burrice glacial que acelera nossos corpos para o caus.