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Conhecimento e Graça – Verdade e amor

O contraditório é a semente do conhecimento. Se você não consegue lidar com o diferente você não tem as bases para obter o conhecimento. O absurdo é parte do diferente que é parte do contraditório, essência do conhecimento.

A graça nasce dos limites da dialética, do sofrimento e da dúvida. A graça não está em oposição ao conhecimento. Filha da dúvida encontra no conhecimento a boa direção, pois sem ele fanatiza e se descontrola.

Conhecimento não é informação. A informação é matéria prima do conhecimento, que para desenvolver-se é preciso experimentação e teste. Através do conhecimento e graça encontramos a verdade, Deus.

Deus age como verbo, mas é um substantivo. E o amor? Aonde está? Pra que serve? Está no caminho para a verdade, pois somente ele garante a perseverança necessária para o encontro com Deus. E como o encontramos? Primeiramente é necessário se despir das moralidades, sem fugir ao bom caráter e da cultura como expressão do tempo de uma época. É preciso amansar o julgamento e saber que a estrada correta não é a que vai pra direita ou pra esquerda, mas a que vai pra cima, que constrói com segurança e longevidade. É cultivar o silêncio para concentração, a humildade para a audição, o não saber – a simplicidade para conhecer, agir serenamente com clareza para explicar, contentamento e gratidão pelo exemplo que nos foi dado por aquele que trocou a dor de muitos pela sua própria dor, Jesus cristificado.

Bolhas

Das Bolhas ao Substrato

Prezados venho a vós esclarecer que as discussões políticas em torno das vacinas: se boas ou ruins, se já devíamos ter iniciado as imunizações ou não ou se a vacina A é melhor que a B não passam de bolhas de sabão. Já deveríamos ter saído da fase histérica da crise para a racional, pelo menos em relação as orientações governamentais – judiciais. Esse “defeitinho” normalmente ocorre quando focamos em apenas um objeto de salvação, assim como em Deus ou na vacina, nos esquecemos que medidas de prevenção são extremamente eficazes. Usadas de forma inteligente já poderiam ter resolvido o problema dos transportes públicos, escolas e até mesmo a lotação de hospitais, mas não é o que temos visto. A própria OMS já deveria ter planos para a vacinação em massa, gratuita e bem distribuída pelo planeta, única forma efetiva de exterminar com a doença.

Sempre fui fã dessa área de saúde, pois coloca ricos e pobres no mesmo patamar, rompe fronteiras e barreiras morais em prol da humanidade. Na verdade, estamos diante de um dos maiores paradigmas da sociedade: liberdade X segurança. Ficamos discutindo incessantemente puxando a corda – horas para cá horas para lá – sem nos dar conta de que esse cobertor é curto e que ao cobrir a cabeça necessariamente teremos de descobrir o pé. Falar em liberdade é citar os direitos humanos individuais, permitir a auto realização – gratificação pessoal, e a criação. Já conversarmos sobre segurança é proclamar o direito coletivo, ensejar a consciência universal e o amor. Na liberdade o processo de evolução é mais lento e sólido, como na democracia, já na segurança este processo é rápido mas efêmero, como observado na segunda onda da Covid-19 que estamos vivendo. A liberdade a longo prazo é segurança e a segurança a longo prazo é liberdade.

Como sair desse imbróglio? O que devemos de fato analisar nesse momento? Em que basear a decisão correta em todos os setores? O fato é que estamos nos esquecendo de uma variável determinante para o momento, o tempo. Este “senhor” que a tudo destrói, não pode ser alimentado por discussões tolas, fogueiras de vaidade, lenhas na fogueira ou preconceitos morais individuais. Sua vida, a do tempo, precisa ser encurtada e só existe uma forma de transpor essa barreira… com a velocidade. A percepção científica de que ao ultrapassarmos a velocidade da luz voltaríamos no tempo, nos dá a dica correta para encurtar nossos processos em direção à soluções. E sendo LUZ o que devemos ultrapassar devemos nos lembrar que só é possível de uma forma: pensando e nos colocando no lugar do outro, coletivamente.


Abraço virtual
Edgard de Vilhena

Terapia homeopática – Série Perfis homeopáticos – Perfil Paranóide

Nesta série de vídeos o Dr. Edgard Vilhena do Instituto de Valorização da Saúde, faz um passeio sobre os 4 perfis da psicanálise de Moreno.

Paranóide:

Forças
– É bom líder
– Tem certeza de valores
– Propõe soluções
– Sempre tem resposta
– Dá segurança para os outros

Ameaças
– Fica agressivo, caso alguém discorde dele
– Ataca as pessoas que estão contra ele
– Vira violento, duro, agressivo
– Aumenta o tom de voz de forma ameaçadora

Fraquezas
– Não aceita opiniões contrárias as suas
– É autoritário
– Não tem flexibilidade para aprender e crescer

Oportunidades
– Dedica-se na defesa do que propõe
– Comanda situações complicadas
– Toma decisão com facilidade
– É bom para trabalhar nas áreas militares, bombeiros, emergências

Terapia homeopática – Série Perfis homeopáticos – Perfil Depressivo

Nesta série de vídeos o Dr. Edgard Vilhena do Instituto de Valorização da Saúde, faz um passeio sobre os 4 perfis da psicanálise de Moreno.

Depressivo:

Forças
– “Dignidade” é palavra-chave
– É solidário
– Preocupa com os outros
– Ofere se para ajudar os outros

Ameaças
– Culpa os outros gerando
– Tenta manipular os outros pela culpa
– Cobra do outro o que ele fez espontaneamente mal-estar

Fraquezas
– Sempre se sente vítima “adivinhem” o que ele precisa
– Tem sempre a sensação de injustiçado
– Espera que os outros

Oportunidades
– Liderança comunitária: padres, pastores, síndicos e militares
– Melhores cargos são recepcionista, “chefias”
– Gerencia eventos, shows, etc – Gerencia bem grupos professor

Terapia homeopática – Série Perfis homeopáticos – Perfil Histérico

Nesta série de vídeos o Dr. Edgard Vilhena do Instituto de Valorização da Saúde, faz um passeio sobre os 4 perfis da psicanálise de Moreno.

Histérico:

Forças
– “Liberdade é palavra-chave
– Envolve-se nas emoções dos outros
– Chamar a atenção pela beleza e pelo trabalho
– Alegria e velocidade Intuição

Ameaças
– Faz com que o outro não pareça sensível
– Muda rápido emocionalmente (do envolvimento ao desfalecimento)

Fraquezas
– É muito sugestionável, volúvel dos outros
– Sente sintomas físicos sem causa clínica
– Perde controle e entra em pânico
– Tem fobias
– Desqualifica as sensibilidades

Oportunidades
– É muito bom com coisas de moda, arte, música, dança, publicidade, textos
– Expressa emoção bem
– Intui o caminho certo, mas não sabe explicar porquê

Terapia homeopática – Série Perfis homeopáticos – Perfil Obsessivo

Nesta série de vídeos o Dr. Edgard Vilhena do Instituto de Valorização da Saúde, faz um passeio sobre os 4 perfis da psicanálise de Moreno.

Obsessivo:

Forças
– É muito organizado
– Analisa as situações em todo os lados
– É detalhista, perfeccionista
– É analista
– Erra raramente pois analisa bem
– Escuta bem

Ameaças
– Muda de ideia quando outras pessoas concordarem gerando instabilidade no grupo
– Irrita especificamente os paranoides, desconfiança

Fraquezas
– Fica contra si muitas vezes
– Falar a mesma coisa de forma prolixa decisão
– É paralisante
– Tem dificuldade de tomar
– Falar muitos detalhes, fastidioso

Oportunidades
– Melhores cargos são áreas onde precisar detalhes(analista de sistema, recursos Humanos)
– Sempre busca um novo ponto de vista além do proposto pelo grupo

Evidência, como encontrar agulhas num palheiro.

agulha no palheiro

O que é evidência? Não evidência significa inexistência? Como podemos encontrar evidência? Quando podemos dizer que temos evidência? Estas são algumas perguntas e caminhos que tentaremos elucidar nesse texto para que todo iniciante possa fazer sua pesquisa.

Primeiramente vamos a questão chave da sua pesquisa a pergunta que não quer se calar, isso orientará o objetivo de seu trabalho. Segundo é a pesquisa bibliográfica que deverá fazer antes de começar a definir sua metodologia de trabalho para melhor entender do assunto.

Vamos tentar resumir essa experiência com a seguinte imagem. Como encontrar agulhas num palheiro? Você pode tentar separar as palhas até encontrá-las, mas isso certamente demoraria muito e dependendo do tamanho do palheiro pode ser uma tarefa impossível. Você então pode pegar uma pequena parte do palheiro para catar, mais isso não garante que existam agulhas naquele pedaço escolhido. Sendo assim vem a terceira questão, calcular o tamanho mínimo para a amostra. Quanto devemos pegar de palhas para que com um grau bem aproximado de certeza possamos dizer que ali devem ter agulhas. O conceito depende simplesmente do sucesso que estudos anteriores tiveram ao procurar agulhas preferencialmente ou qualquer outro objeto similar no palheiro. Estamos dizendo que o palheiro é a população e as agulhas são os resultados esperados.

Se nos atirássemos no palheiro conseguiríamos encontrar agulhas? Talvez, necessitamos de pesquisa para o óbvio? Não. Qual a garantia de que as picadas que sentiríamos seriam provenientes de agulhas? Poderia ser a própria palha? Isso não é evidência. Olhar as palhas e catar as agulhas resolveriam a questão? Será que todas elas são visíveis a olho nú? Isso nos coloca diante da escolha do instrumento. Poderíamos então recorrer a diferentes ferramentas para buscar evidência sobre a existência de agulhas. Sabendo, daí a importância de se conhecer o assunto, que as agulhas brilham sob a incidência da luz ou mesmo que poderiam ser atraídas por um grande imã, poderíamos capturá-las ou visualizá-las. Estamos falando agora de intervenções como a luz e o imã e de formas de mensuração como a visão e o magnetismo, intimamente ligadas ao objetivo e questão do estudo: existem agulhas dentre as palhas daquele celeiro?

Ao falarmos em celeiro incluímos uma parte da população de palhas que estão em determinado lugar com determinadas características. Poderíamos pegar qualquer palha ou entrar em qualquer celeiro? Ou devemos escolher aquele tipo em que seja mais fácil a identificação de agulhas? Obviamente que sim à segunda pergunta, poderíamos também excluir tipos de palhas e celeiros que podem esconder ou confundir a identificação de agulhas que de alguma forma interfeririam no resultado. Como por exemplo, aquelas que estão impregnados de outros metais ou vidro que possam ser identificados pela luz ou pelo imã como agulhas. Quanto maior a “pureza” da amostra melhor. Selecionar uma amostra sensível ao instrumento é dar poder ao estudo, através de critérios de inclusão celeiros om agulhas) e exclusão – retirarmos da amostra aquilo que possa influir negativamente no resultado. Pesquisar palhas no celeiro do vizinho que não possibilitam acesso à investigação, expõe a necessidade da ética e do consentimento livre e esclarecido. O caminho será sempre o mais fácil e simples, não o difícil. Uma pesquisa não abraça todas as questões e não dá prêmio Nobel a ninguém! Somente uma obra é capaz de conferir esse título.

Mas como usar essas ferramentas na identificação de agulhas? Mesmo escolhendo bem a amostra com os critérios acima, não podemos simplesmente sair por aí passando um imã no palheiro ou iluminá-lo e achar que tudo que espeta, captura ou brilha são agulhas. Simplesmente porque “as coisas ou são o que parecem ser, não são e nem parecem ser e mais ainda são e não parecem ser ou não são, mas parecem ser” (Epictetus, século II d.C.). Sendo assim para nos aproximarmos da verdade temos que fazer testes que contemplem essas 4 possibilidades de diagnóstico. Esta é uma das razões por que separamos nossos estudos sobre a amostra do palheiro em pelo menos 2 grupos X 2 resultados possíveis. Em um grupo interveríamos de modo a jogar a luz e palpar a palha na expectativa que as agulhas espetem ou brilhem e no outro grupo fingiríamos intervenção, na esperança que neste grupo observaríamos menos picadas ou brilhos que no primeiro. Fingir é importante, pois assim atribuiríamos o aparecimento das agulhas de fato as técnicas de iluminação ou magnetismo, passarmos a lanterna não iluminada sobre o palheiro, assim como um metal simulando o magnetismo é a garantia de que a luz e o magnetismo e não a lanterna ou o metal são responsáveis pela identificação de agulhas. Encontrar pontos brilhosos, outros metais ou mesmo picadas (no caso de usarmos a palpação das palhas) não seriam atribuídos à luz, ao magnetismo ou ao tato (à intervenção estudada) e no caso de inconsistência na observação de agulhas diríamos que o estudo teria uma baixa validade interna, a capacidade da aferição de agulhas pelo instrumento utilizado, os casos (agulhas) não são casos. Quanto maior a identificação dessas agulhas no grupo controle menor a diferença entre eles, sem evidência, pois não haverá uma diferença estatisticamente significante entre os grupos, o que não quer dizer que não existam. Estamos falando de estudos controlados onde um grupo é o controle (“intervenção fingida”), do outro, o grupo teste (intervenção estudada). Estamos falando também, no caso de não pensarmos em quem manuseará a lanterna ou o imã (devendo ser a mesma pessoa com a mesma técnica) que pode gerar um viés, um erro no desenho do estudo. Quando lidamos com variáveis não conhecidas e se influem no resultado chamamos de variável de confusão, pois não permitirá atribuir a luz ou ao magnetismo o efeito de se encontrar agulhas. A forma de lidarmos com essas variáveis é a aleatorização das amostras, um sorteio livre de influências que distribuiriam essas variáveis entre os grupos teste e controle. A luz ou o palpar da palha ou o imã poderia ser o medicamento homeopático. As agulhadas ou a capura delas podem ser um resultado positivo à saúde do paciente se diferente do grupo controle. E a lanterna de plástico (sem magnetismo) e com a luz desligada, o metal sem magnetismo ou até mesmo uma mão mecânica sem sensibilidade, o placebo.

Eis que surge uma nova questão. E se o pesquisador ou interventor ou as pessoas que medem o experimento estiverem muito desejosas de observarem resultados positivos e por isso, mesmo inconscientemente, escolhessem amostras de palhas mais reluzentes para o grupo teste (com a intervenção real), ou mesmo escolhessem palhas mais macias cuja sensação de espetar seria menos repetitiva no grupo controle (aquele em que fingimos a intervenção)? E se aqueles que medem os resultados ou fazem a pesquisa soubessem qual é o grupo teste e isso os influenciassem a notar mais brilhos ou espetadelas? Estamos falando aqui da necessidade das amostras de palha serem escolhida aleatoriamente e de estudos cegos onde todas as pessoas participantes não sabem qual é o grupo aonde há intervenção real. A aleatoridade na amostra define o que chamamos de estudo epidemiológico tipo ensaio clínico. Aqueles que não tem sua amostra aleatória chamamos de estudos tipo observacionais. Os ensaios clínicos são os únicos que de fato são capazes de mostrar evidências de que alguma intervenção funciona. Já os observacionais sinalizam características/ variáveis diferentes das amostras que mais propiciam a identificação ou o risco de encontrarmos agulhas. É óbvio também que assim como numa corrida de cavalos todos os grupos devem largar em condições idênticas (ou o mais próximo disso), com as mesmas chances de ganhar a prova, deixando a diferenciação apenas para as características dos animais, treinos ou cavalheiro, grupos homogênios. Logo numa pista de corrida, a distância a percorrer entre os concorrentes também deve ser igual, seguimento ou follow up. O acompanhamento de um tratamento também deve ser igual assim como o momento de aferição de resultados.

E quanto à pergunta de quando podemos dizer que há evidência? É simples notar que ao termos 2 grupos X 2 resultados possíveis: positivo e negativo sendo nossa hipótese verdadeira chegaríamos a equação oriunda de Epictetus (de 4 diagnósticos possíveis; 2 X 2 = 4) onde no grupo teste um resultado positivo representam coisas que são, no grupo controle um resultado negativo significa que as coisas não são parecendo ou não ser. Porém um resultado a priori duvidoso no grupo teste: as coisas são, mas não parecem ser e o mesmo no grupo controle um resultado negativo as coisas não são mas parecem ser, tem de ser contrapostos em ambos os grupos. Sendo assim se tivermos mais resultados positivos no grupo teste e mais resultados negativos no controle parecendo verdadeiros ou não, nos aproximamos mais da verdade de que existem agulhas no palheiro. E isso é evidência.

Baile de Máscaras. Platina

–         Bom dia!

–         Oi!

O cheiro do perfume tomou o ambiente com a mesma velocidade que um certo ar “blasê” arrastava minha atenção para aquele corpo escultural. Meio sem fala, ofereci minha ajuda como sempre, na tentativa de redimir minha perplexidade:

–         Em que posso ajudá-la?

–         Na verdade, não estou bem certa. Vim porque minha mãe insistiu.

–         Insistiu no quê?

–         Ela acha que tenho problemas…

–         Que tipo de problemas?

–         Ela implica comigo porque chego tarde em casa. Diz que trato todo mundo como se fossem meus empregados.

Devia ter um metro e oitenta de altura, bustos fartos e um glúteo colossal. A princípio, achei que fosse silicone, mas confesso que fiquei com dúvidas ao realizar o exame físico e continuei:

–         Empregados?

–         É a família do porteiro lá de casa, aquela gentinha… Não gosto de gente que fala do que não entende. Imagina que outro dia peguei eles criticando a minha fantasia. Desci o barracão!

Ao começar a falar do carnaval, lembrei-me do meu Rio de Janeiro.

–         Eles não sabem nem o que é um “pespontê”!

Confesso que fiquei com vergonha de perguntar. E continuou:

–         Afinal sou a rainha da bateria!

–         Nossa! Exclamei, derrapando meu olhar pelo tobogã que se formava em seu peito.

–         Se o carnavalesco da escola ouve uma coisa dessas, nem sei. No outro dia, por muito menos vi ele dar um tremelique… Depois de se debater, jogou-se no sofá que trazia o carro alegórico. Foi preciso chamar o padrinho e os seguranças da escola para removê-lo.

A consulta avançava, minha atitude curiosa ajudava a incrementar nossa cumplicidade.

–         Sabe, não foi fácil ganhar esta parada, pois todo mundo quer ser a rainha de bateria. E não tive que dar pra ninguém… O “padinho” abençoou o samba no pé e venceu a melhor, é claro!

–         Você gosta do carnaval? – perguntei.

–         Se eu gosto… Carnaval é a minha vida. Ralo o ano inteiro, malho todo dia e ainda estudo!

–         Está trabalhando?

–         Mexo com moda… Quando não tô numa passarela, tô em outra. E ainda tenho que dar atenção para o namorado que ninguém é de ferro!

Ao contrário do que esperava no início da consulta, comecei a perceber que, por trás daquele brilho, de fato, havia uma estrela de verdade. Há estrelas que ainda brilham mais por dentro que por fora.

–         No fundo, gosto de ver toda aquela mistura: o pobre é milionário, bandido tá na lei, trabalhador-vagabundo, santíssimos com a sacanagem na ponta da língua… Todos cantando o mesmo samba, venerando sua deusa. Não é aquela pequenez irritante do dia-a-dia.

…Contornou a moça.

Os enganos são comuns ao avaliarmos o caráter das pessoas. Temos uma tendência a resumir nossas experiências na imagem que vemos pela frente, com uma tendência perversa ao rotular o belo e o feio. É mais fácil, dá menos trabalho que conhecer. Menos trabalho para quê? Pergunto eu! Pois se o fascinante da vida é descobrir. Descobrir quem se esconde atrás do orgulhoe da empáfia. Aproximar-se das pessoas para que possamos trocar energias com elas e não tenhamos de tirar energia só das comidas, do cigarro, do álcool, das drogas ou do dinheiro. Os vícios são esculpidos na base das virtudes. Como forma de sustentar a vida nos movendo numa única direção, fazemos do nosso dom a nossa cachaça diminuindo e renegando outras aptidões. Os vícios, são formas eficazes de aglutinar energias, porém de um tipo só, como a terra que só tem um tipo de mineral… Nada cresce. Esquecemos que podemos trocar simpatia por bondade, humildade por carinho, paciência por gratidão, sinceridade por amizade e boa vontade por perdão.

– A propósito,  acabei não perguntando seu nome.

– Antônio, mas meus amigos me chamam de Tuca.

Poder: da fascinação; desejo: da majestade; medicamento: Platina.

Três sets a um… Tarântula hispânica

–         Vai, vai, vai, vai…

–         Bate! Bate!

–         Acerta ela, pô!

–         Valeu! Boa!

–         Mata, mata.

–         Eh, eh, eh, eh, eh, eh, eh …

Dia de Fla X Botafogo no vôlei feminino. Time da casa: Flamengo.

Lembro-me bem do monólogo repetitivo que a líder do rubro negro, determinada pela vitória, deferia com sua equipe. Bem adestrada pelo seu técnico de cara feia e cabelo parafinado, movimentava-se o tempo todo batendo palmas a cada ponto ganho. Na época, eu treinava na escolinha, na sede do clube ao lado da quadra principal. Ao final do meu treino, enquanto esperava meus pais, sempre assistia aos jogos. Os treinos mais pareciam um dia numa delegacia de polícia. O técnico com jeito de surfista encenava gritos e pauladas. Eram sessões sado-masoquistas abertas. Nunca vi meninas tão bonitas apanharem tanto. Era bolada pra tudo que era lado. E as contusões? Aquelas garotas viviam enfaixadas.

Num outro momento, no consultório:

– Doutor, vou morrer pela boca! Quero me casar, mas tenho vergonha de entrar num vestido assim… Ah, só me lembro de estar magra quando jogava…

–         Jogava o quê? – perguntei.

–         Vôlei pelo colégio.

–         Ah, sei. Fale-me um pouco sobre você.

–         Sobre mim? Falar sobre a gente é difícil…

–         Uma qualidade, um defeito…

–         Defeito, todos, agora qualidade…

Sem deixar a bola cair, enfatizei:

–         Adoro defeitos! É sinal de que estamos diante de gente.

–         Brigo muito com meu noivo, sou ciumenta, uma hora estou bem, outra tô mal. Não consigo deixar esta agitação.

–         O que é que te acalma?

–         Quando ele me leva para dançar, transar – tem que ser todo dia pra mim – e ouvir música… Música é bom…

–         Que mais?

–         Acho que sou meio vingativa também…

E continuou contando-me que, desde mais nova, costumava armar quando estava de olho num menino e a concorrência também, sendo capaz de qualquer coisa para aprisionar o objeto de seu desejo.

O jogo estava um set a um e, na arquibancada que era ao lado do banco dos reservas, ouviam-se as estratégias do treinador:

–         Você salta por trás da Suzi, agora pula mesmo, como se fosse bater e deixa o corpo cair que a Dora vai enterrar esta pra gente. “Vamo arrebentá” com elas… Mexendo em quadra, hei, não quero ver ninguém parado… Agita, vai!

Um torcedor do time da casa, que se sentou ao meu lado, abordou-me:

–         Vamos amarrar o time deles. É o jogo da vingança, se precisar pise no pé machucado da levantadora deles.

A derrota na casa do Botafogo deixou todo mundo mordido, tanto a minha cliente que sofria de uma dor tipo agulhadas na coluna, como aquele time de voleibol, acreditavam que poderiam matar pelo desejo. Como num ritual macabro em que o momento de fé manifesta pelo cuidado, era interrompido com movimentos de autoflagelação, algumas meninas do vôlei ao perder o ponto socavam suas próprias cabeças em sinal de veemente penitência.

Perguntei para a noiva de onde vinha esse comportamento:

– Sei lá, doutor! Tive uma infância meio confusa, o meu pai era um militar bravo e batia na minha mãe. Orgulhoso, ensinou a gente a nunca baixar a cabeça pra ninguém, sabe… Ao mesmo tempo, a minha mãe não o largava. Ela dizia que gostava dele… Agora tá com problema de alcoolismo…

A vingança é de fato uma forma eficaz de superar obstáculos e de conquistar. Mas é um erro tratar uma revanche como uma vingança onde é possível até vencer, mas nunca ser um campeão. Ferir aquilo que as fazem viver sem medo de matar ou morrer, como uma faca de dois gumes, essas pessoas como uma viúva negra, que teimam em terminar só, acabam também emboladas em sua rede desferindo suas presas contra si mesma. Minha cliente dizia repetidamente ter pena de seu noivo, temendo pelo fim da relação. A necessidade de submeter suas paixões parece, em sua imaginação, dar-lhes garantias de que serão as únicas a gozarem. Vivem a fidelidade como um pacto de morte e a relação como um fim e não como um começo.

Num lance arquitetado, a líder do Mengão sentiu o joelho.

– Ai!

Gritou ela.

Foi retirada carregada. Cada membro para um lado diferente… E o Flamengo, perguntariam vocês…

– Perdeu pro meu Fogão! Três sets a um. Fo…go! Tum, tum…tá! Fo…go…

 

 

Poder: vingança; desejo: de submeter e submeter-se; medicamento: Tarântula hispânica.