Todos os posts de Edgard Vilhena

Pérola, Calcárea carbônica

Disse uma ostra para uma outra visinha:

– Sinto grande dor dentro de mim! É algo pesado e redondo que me deixa deprimida…

A outra sorridente agradecia ao céu e o mar por estar sã e em completa comunhão com a natureza. Foi quando passou um caranguejo que ao ouvir a conversa falou:

– Sim você está boa e sã, mas a dor que sua colega tem, é uma pérola de excessiva beleza…

Uma pérola é um templo construído pela dor em torno de um grão de areia. Todo bom e grande homem que conheci, tinha alguma coisa pequena em sua formação, que o incomodava, mas ao mesmo tempo o impedia da inatividade, loucura ou suicídio. Assim como as tartarugas medindo cada passo de suas vidas, essas pessoas, conheciam melhor a estrada que os velozes coelhos. Porém quando adoecem essas características se transformam em lentidão, fragilidade, deficiência nutricional, mesmo que obesas e quando suas idéias não conseguem se transformar em realidade ficam obsessivos:

– Não consigo pegar um copo d´água que fico com minhas pernas doces…

– Acho que estou ficando louco, há um medo que me possui…
Enquanto suava na cabeça, Pedro dizia sentir um frio que se configurava em suas mãos e pés gelados. Desejava se sentir tão seguro que decidiu trabalhar um tempo como carcereiro voluntário em um presídio e perguntado do porquê de tal atitude, respondeu:

– Lá eu sei o que fazer para que nada me aconteça… É diferente de você estar na rua se escondendo atrás de uma bala perdida, que pode te achar…

Obstinado, sofria pelo poder do inusitado, da surpresa, daquilo que o movimento das marés podem nos trazer que não esperamos. E no seu caso esperava sempre algo ruim. Desejava controlar seu futuro e a cada dia que passava se dedicava mais aos negócios. Precavido em demasia já havia tomado um “sem número” de remédios e chegou absolutamente indiferente quando do falecimento de seu filho, que relatava como se fossem coisas da vida…

– Tudo bem, Deus quis assim…

Lembro-me depois de iniciado o tratamento, que queixava-se de piora geral, lembranças do seu pequeno o faziam chorar:

– Minha gota que já havia sarado voltou…

– No outro dia acordei com uma batedeira no peito danada, fui até ao cardiologista, mas ele disse que não era nada os exames estavam todos normais…

– Dr não tenho nem mais vontade de ficar trabalhando, o que é que vai ser de mim…

Ao contrário do que Pedro poderia pensar, o fato de estar sentindo novamente era um sinal flagrante de melhora, estava reconstituindo seus nervos, sua sensibilidade. O que pretendia certamente era também controla-los, mas isto sem dúvida não é saúde.
A fé dele foi fundamental para persistir no tratamento, pois aos poucos suas preocupações com o futuro foram sumindo, sua atenção ao presente aumentando, o prazer pelas pequenas coisas retornando até perceber que já não mais carregava aquela concha, um fardo certamente maior que a proteção que ela mesma poderia lhe dar.

Poder: surpresa; desejo: saúde e bem-estar; medicamento: Calcária carbônica.

Fluxo, Phosphorus

Estamos subindo para o cume de nossos desejos e se algum alpinista roubar sua comida e sua bolsa e ficar gordo e pesado. Será digno de pena. Pois a subida do ladrão ficará mais árdua e o fardo tornará mais longo o seu caminho. Assim enxerga a vida, Maria, que só tem energia para a doação, o trabalho voluntário e a compaixão:

– Dr… A gente dá com a mão direita que é para a esquerda não cobrar…

– …Quem faz gratidão não espera recompensa…

Veterinária, “mãezona” de um pastor alemão, três Pudows toy e cinco gatos, respondeu-me quando lhe perguntei o que pretendia com tamanha dedicação.

– Ainda cuido de minha mãe que está doente…

É como se tivesse uma nascente dentro de si, escoando sua produção para os oceanos. Ou como o “ladrão” de uma pia, drenando a água que precisa estar constantemente sendo ejetada, para que não esvazie o compartimento.

– Não tenho marido mesmo…

– Minha maior alegria é quando meu gato sobe em meu colo para que eu possa acaricia-lo.

Esqueceu-se de sua vida pessoal, pois em algum momento, agora como foz e não mais como nascente no rio de sua vida, caiu sob o poder do desamparo e egoísmo. Perdeu seu noivo num acidente, a véspera de seu casamento. Busca afeto com a habilidade de suportar e amparar.

– Não posso nem focar muito um estranho que começo a ver coisas…

Como se sua consciência fosse a existência alheia. Como se os reflexos de um espelho ofuscassem a visão de si:

– A luz me dá dor de cabeça e minha fraqueza me faz comer.

Sente e sofre com medo de tudo, sendo muito susceptível a energias de todo tipo:

– Adoro receber uma massagem…

– Se estiver num lugar que não me sinta bem… Naquele mês, mênstruo sem parar…

– Tenho até que fazer meu crochê ou me dedicar mais a minhas aulas de canto…

A cura de Maria aflorou quando aprendeu através das artes, que a beleza alivia a dor. Atenua a frustração. E organiza as emoções. Pois como nascente sobe, como cachoeira desce, sem coordenação, apenas pela necessidade de fluir nas relações em busca de afeto.

Poder: doação e da solidão; desejo: cuidar e de energia; medicamento: Phosphorus.

Missão Espiritual, Arsênicum album

– A senhora é brava?

– Ah… De vez em quando eu agito…

– Agita com o que?

– Eu vivo abusada da minha felicidade!… Nunca apanhei dos meus pais, vou apanhar de qualquer coisa…

– Que coisa?

– Do velho que tem lá em casa…

– Seu marido?

– É, essa coisa aí…

Dona Juraci chegou com “queimações” por todo o corpo, problemas de saúde e continuava a falar:

– Eu gosto das coisas de acordo e limpas, se não tá bom eu falo mesmo e acho que é isso que incomoda aquele “bebum”…

Seu dom era o da sobrevivência, seu desejo o da correção e o poder que lhe afligia, o da ameaça de vida. Vindo de uma família humilde na roça, filha do meio de 10 irmãos, sete vivos provou muito cedo a responsabilidade da maternidade ao cuidar de pelo menos 3 irmãs mais novas. A disciplina e os cuidados que se impôs durante anos foram essenciais para a manutenção da sua vida e de seus familiares. Viveu esta lei e assumiu esta moral em cada instante de sua vida. Cresceu, progrediu e se formou enfermeira zelando pela limpeza e perfeição nos procedimentos que realizava. Este aprendizado não ganhou na universidade, mas nas divisões de tarefas e comida que executou com liderança em sua infância pobre. Preocupava-se consigo e com os quais compartilhava seu amor:

– Fico nervosa com minhas irmãs quando saem de casa, essa violência toda aí nas ruas, só durmo depois que elas chegam das festas…

Ansiedade marcada pelo que ia acontecer sempre ganhava uma conotação emergencial, desnudando o seu medo de morte. Pavor de ser enterrada viva, Dona Juraci, dona da verdade alcançou seu objetivo e sobreviveu. Brincava dizendo:

– “Eu faço o que eu quisé…”

Foi quando lembrei-me de uma frase, “cuidado como o que você deseja, que você pode conseguir…” Esta frase implica uma sabedoria ancestral arraigada nos mitos gregos e romanos. Assim como na história do deus Dionísio que ao atender ao pedido de um homem que queria ser rico, dotou-o de um dom: tudo que tocasse viraria ouro. Ou mesmo o dom que Apolo deu a Cassandra, o da visão profética… Ambos se tornaram vítimas de suas próprias qualidades, o primeiro, sem conseguir comer e beber pois todo alimento que colocava na boca transformava-se em ouro e Cassandra que só dizia a verdade e por isso foi considerada louca por seus concidadãos troianos… Assim como a Dona Juraci exercitava a verdade da vida, verdade essa muito difícil de ser enxergada por outros… Cegava-os diante da luz intensa que emana da pureza da matéria bruta, a realidade.

Para vencermos essa realidade desenvolvemos habilidades que são como ferramentas potentes, mas que podem ter mal uso. Na verdade o potencial da doença existe em todos os dons e não é porque temos uma habilidade que temos de experimenta-la obsessivamente (repetidamente), vividos de forma unilateral sem compartilhar, aprendendo, ensinando e monoteisticamente, como se fosse esta a única verdade, a verdade suprema, adorando-a acima de todas as outras coisas ou pessoas… Pois desta forma estaremos rompendo com o equilíbrio necessário a própria vida, dilacerando a própria saúde.

A estrada do exagero, às vezes leva ao palácio da sabedoria e foi assim, aprendendo com a própria dor que Dona Juraci começou a se descuidar ou melhor cuidar-se. Engravidou, até meio fora de época, dessas que parecem desorganizar, um recado da própria vida… Linda… A beleza daquela menina suscitou-a a imaginar um futuro melhor, melhores idéias e projetos, de pensamento em pensamento foi construindo uma vida melhor. Deu o nome a menina de Rosa, e viu-se curada quando percebeu que sonhar era mais importante que viver…

Poder: correção; desejo: viver, sonhar; medicamento: Arsênicum album.

Elemento básico, Natrum muriaticum

Estava deprimido, triste e melancólico. Era 10 h da manhã… De um lado o deserto do outro o mar. Minha boca estava seca, salgada e com rachaduras nos cantos. Meus calos e calcanhares cortados, meu corpo magro e fatigado eram o retrato daquele amor perdido que tanto castigara meu coração que agora palpitava como se quisesse sobreviver. Confortava-me com a solidão e a dor latente na cabeça como se mil martelos pequenos me golpeassem, debruçavam – me sobre meu corpo. Quando estava quase tocando o chão com a minha testa pude vislumbrar um ponto brilhante. Minha vista fraca, olhos irritados e rochos permitiram – me ainda focar o objeto e como num suspiro antes mesmo de desmaiar consegui me esticar, pegar a pedra e curiosamente coloca – la na boca e experimentar.

Ao acordar já era noite e o gosto de sal deixado pela pedrinha entre minha saliva, recordou – me aquele último movimento antes de perder os sentidos. Aos poucos minha mente acordava e com ela algumas repostas surgiam. Costumava perguntar:

Por que as coisas não davam certo para mim?

Cheguei a fazer até um curso de Marketing, e me convenci que a saída era os cinco P: preço, prazo, praça, produto e prestígio, mas:

– “Puts q’uil paril” o sexto e sétimo“P”, sempre me atrapalhava e era “prejuízo” na certa.

– Paiê… Socorro!, Na tentativa de que o nono “P” me ajudasse, gritei… Foi quando ouvi uma vós lá do fundo conversando comigo:

– O que você procurava?

– Ah! Eu queria ser feliz, alegre, ter um monte de amigos e alguém que me amasse de verdade…

– E porque você sempre procurou isto no claustro, na intemperança, sem saborear o pouco que podia conter uma mastigação?

– Como assim?

– Se abster de conviver, de riscos e da dor, é não experimentar a própria vida. Se isolar é sucumbir ao poder do silêncio é tentar modificar pela ausência, pela dor que sua falta pode causar ao outro, mas que acaba por arrastar você mesmo… Olhava para você morrendo de sede ao lado dessa imensidão de água.

– Mas não podia beber era água salgada…

– Por isso não és feliz… o que tinhas em mãos não era água mais sal…

– Quer dizer então que foi você que me salvou?

– Tinhas milhões de pedrinhas ao seu redor capaz de reorganizar todos os seus fluidos, mas querias outro… “Proibidos a sua natureza”… Foi apenas naquele instante em que nada mais podias pensar, que libertastes sua mente, que eu pude lhe aconselhar a um primeiro gesto… O de colocar o sal sob sua alma…

– Como assim primeiro gesto?

– Gesto é um movimento que se realiza para elevação da alma, e até aquele momento você só queria morrer, paralisar…

– Obrigado Senhor por me salvar!

– Engano seu, não sou um “Senhor”, sou a vida e esta não salva ninguém, apenas lhe dá a semente (o sal), para que você possa plantar… reorganizar-se e construir sua felicidade…

Poder: claustro; desejo: contato; medicamento: Natrum muriaticum.

A cética, o ovo e a galinha… Pulsatilla

Como é que a senhora está Dona Clotilde?

– Bem …

Tomou a medicação?

– Tomei.

E a senhora acha que lhe ajudou a se livrar da estafa?

– Estou mais calma, mas outras coisas aconteceram também…

Que coisas?

– Ahh… Saí de férias, as crianças foram para a casa dos avós e eu e meu marido pudemos passear um pouco… não sei se foi o remédio… mas estou melhor.

É comum nos fazer uma pergunta atrás da outra, para encontrar explicações para determinado fato… E ao tentarmos encontrar aquela explicação que seria a gênese de todo o processo que gerou aquele fato, sempre nos deparamos com a mesma pergunta… O que veio primeiro, o ovo ou a galinha? Isto é um paradigma e só podemos resolver este axioma respondendo: – O ovo e a galinha, ao mesmo tempo. E da mesma forma respondemos a Dona Clotilde:

– A cura vem de várias formas e ao mesmo tempo, somos como um satélite que ao mudar de posição vislumbra um mundo outrora desconhecido que morava ao lado. O eixo de sua vida mudou de direção e o mal moral que lhe envolvia quebrou, permitindo desabrochar o botão que outrora encistado, morria adequada e silenciosamente.

… em outras palavras,

Na verdade, mesmo de férias e sem as crianças que certamente eram responsáveis por extremo cansaço e estresse, poderia ter sofrido pela falta que a necessidade de cuidar lhe obrigava… O marido poderia ter ficado mais no seu pé, pois também estava sem seu vício – o trabalho… e por fim a escassez comum de dinheiro poderia ter impedido o passeio. Passear, é movimento e alimentar – se de vida, do belo, é estar em companhia agradável, exercitar seus desejos sem as influências do poder perverso do ter que… é encontrar a paz, que profundamente inserida em todos nós, resiste aos dogmas morais cuja confusão estabelece que: gente é produto, amar é submeter – se e mercado é vida.

Poder: abandono; desejo: de atenção; medicamento: Pulsatilla

Por quê?

Ela chegou e disse:

– O que é que tem nesses vidrinhos aí?

Por quê? Interpelei, como se já não soubesse…

– Dr… Mudei minha mesa de lugar no escritório, pedi minha separação pro meu marido, briguei com minha mãe e estou encarando umas baladas…

E o sono…

– Estou dormindo que uma beleza!

Emagreceu?

– Perdi 1,5 kg sem fazer muito esforço, tenho conseguido ficar um pouco mais distante dos doces!!!

Sexo.

– Conheci um cara…

Medos…

– Chorar agora só com hora marcada, não estou mais me sentindo tão só.

São histórias como essa, vivendo cotidianamente, que me encorajou a fazer este livro.

A história acima aconteceu no meu consultório e mostra uma ex-paciente assumindo o controle de seu corpo, de suas emoções, de sua vida, o seu mundo e não um desvio da moral familiar dos “bons” costumes. O caminho para a cura.

Durante dez anos pesquisei e compilei cenários em que almas e corpos se entrelaçam na busca de um equilíbrio tentando diminuir angústias, tensões e dores.

Vou descrever situações em que almas em conflito geram doenças. Almas que se chocam dentro de casa e nos escritórios pelo poder que imobiliza, afasta e corrompe os organismos. Este livro vai lhe ajudar a se ver de fora. E as histórias que reproduzo sustentam e geram outro poder, o de decidirem sobre suas próprias vidas, que sugeri com bons resultados ao longo dos últimos dez anos.

Você acompanhará também almas solitárias buscando se vincular ao universo de outras almas fora do seu contexto imediato. Por querer mais poesia, mais arte, mais alegria ou mais amor. Um esforço solitário que quando bem sucedido vira sucesso. Quando as tentativas falham, vira hipertensão, depressão, obesidade e medo.

A cura começa ao identificarmos como as relações entre gente, entre conceitos conflitantes com desejos, geram um poder perverso que acabam por se encistar o corpo das pessoas. Num lugar vazio, que nada floresce, o Eu só. Que cresce esmagado, como um nódulo que nos incomoda e acaba virando doença.

O Instituto de Valorização da Saúde estuda o homem sob a ótica dos desejos, das relações entre almas e poder. Tenta mobilizar a integridade da pessoa (corpo e alma) a seu favor. Mobilizar o ser vivo a favor de sua própria saúde, aprendendo a gerenciar conflitos, tensões e angústias para evitar doenças.

Vou mostrar também que é muito mais difícil buscar a Saúde do que sugerir panacéias para as doenças catalogadas.

A Saúde ou a cura (ou seja o retorno à Saúde) na maioria das vezes está ao nosso alcance. Este livro e o Instituto de Valorização da Saúde pretende ser o seu apoio nesta conquista.

O mundo virtual

“A folha toma a forma específica do carvalho, do bordo ou da bétula de folhas serrilhadas porque algo no vazio circundante governa o modo de ela se formar de acordo com sua espécie”- Goethe. Nem tudo é genético ou a genética não governa tudo, mas atua de forma interativa com o meio. E o meio é o vazio, o espaço entre um e outro indivíduo, que só existe quando através das relações se percebe a distância ou proximidade que nos encontramos uns dos outros. É na análise deste universo quântico que começaremos a desvendar o invisível. Nos utilizaremos de diferentes modelos, o valor destes modelos está em estabelecer uma definição, um padrão útil para medir aproximações. Nos valeremos dos arquétipos, modelos, que há 200 anos frutos de experimentações médicas, delinearam os chamados policrestos homeopáticos. Exploraremos as relações ancestrais que os dois maiores pecados morais: ira e luxúria, traduzidos sutilmente por Jung e Freud como poder e desejo interferem na saúde organizacional. É claro que o mundo virtual é bem mais amplo e fazem parte deste, também aspectos ambientais como: poluição do ar, sonora, visual, alimentos impregnados de metais e significativa carga hormonal, ondas eletromagnéticas dentre outros. Porém não sentimos, que estes elementos sejam tão relevantes nos processos patológicos endêmicos atualmente registrados: obesidade, ansiedade, depressão e criminalidade.

No excepcional livro de James Hillman, Tipos de Poder, que define poder como ser capaz, pura potência, não o fazer mas a capacidade de fazer, a energia oculta capaz de desempenhar um trabalho ou mudança. O desejo, muitas vezes representado como impulso sexual, na verdade é o estopim, a centelha que deflagra o poder como instrumento para a aquisição de um bem. Entender desejos passa pelo entendimento dos códigos de cada indivíduo, o que dá ou não prazer para cada um. Entender poder passa pelo entendimento dos códigos sociais do que é bom ou ruim – sucesso ou fracasso. Ambos têm obviamente conexões intrínsecas indivisíveis, mas podemos separá – los para melhor explicitação dá técnica. O poder exercido sobre um indivíduo, advindos dele próprio ou de outrem, poderá cura – lo ou adoece – lo, mas se perpetuado por longo período de tempo, mesmo que o considere como “favorável” levando – o a “ganhos” de qualquer natureza, irá adoece – lo. Assim são os miasmas, como uma crosta endurecida pela poeira que só o tempo é capaz de sobrepor e diferentemente de doença age como uma força que nos mantém encistados, impedindo de germinar. Em outras palavras as sementes são os nossos desejos e o poder, esta força que quando perversamente exercida sobre nós, detém nossos pensamentos, fantasias, sentimentos e hábitos num patamar inferior, de sofrimento.

Do mal moral

Como os dicionários usuais definem, moral é um conjunto de regras consideradas válidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa.

Conceitos morais vividos rigidamente por um longo período de tempo nos faz adoecer. Então, por que, então, criamos a moral?

Em nossa visão elementar, a moral, as regras, os limites são criados, em primeiro lugar, para nos proteger de nós mesmos, afinal, somente homens e baleias orcas, enquanto espécies, não possuem predadores naturais neste planeta, deixando o legado do medo e da insegurança para nossos pares, ou seja, “o inferno é o outro”. Em segundo lugar, o instinto nos une, agrupa-nos para que consigamos obter algo que desejamos e que não conseguimos sozinhos. Então, criamos limites (regras) para estarmos o mais focados possível nesse objetivo. Esse conceito organizacional, que se exterioriza como regra, também nos serve para não perdermos tempo repetindo serviços que outros pares dessa comunidade realizam. Assim é a lógica das organizações sociais e governamentais: família e empresa.

Em tudo que fazemos precisamos de nossa libido, fonte maior de nossa força vital, capaz de manter nosso corpo organizado de forma a não adoecer. No entanto, os valores que regem o ser humano como indivíduo são diferentes. Assim, diferentes idéias estimulam sentimentos diferentes, mobilizando diferentes pessoas, em diferentes momentos, para diferentes objetivos, devendo utilizar-se de regras diferentes – mas, infelizmente, isso ocorre quase sempre na mesma organização conceitual. O mal moral que adoece as pessoas é a vitória do plano estratégico das instituições sobre os desejos particulares de cada indivíduo. Regras consideradas válidas para todos atendem ao plano de alguns do grupo, mas frustram a particularidade da maioria, ou seja, a intimidade dos nossos desejos. A cultura de uma organização sem arte é a moral que permanece por muito tempo e acaba por implodir seus indivíduos em constante transformação, enrijecendo-os com artrites e artroses. Cotidiano sem sincronia com nossos desejos íntimos é a moral que criamos para nós mesmos e que exerce pressão de ruptura em nosso organismo, tornando-nos hipertensos em primeira instância (fase reacional fisiológica) para, em seguida, lesar nossos órgãos de forma irreversível.

Viver em harmonia com a comunidade é exercer papel complementar ao outro, afugentando assim o medo básico que seu par tem de ser devorado, superado ou vencido, abandonando a tensão ou o poder que emperra, imobiliza, afasta e corrompe os organismos físicos e que se traduzem, mais à frente, em doença. É natural e permanente exercer uma função complementar, que se soma à função do outro e, logo, deve ser perseguido. Essa postura no mercado e na vida é estratégica e tem poder mobilizador (saudável, dinâmico e não estático) que aproximam e revolucionam as culturas e a saúde das instituições.

Inteligência Emocional e a enfermidade

 

Desde que promoveram a supressão de emoções à condição de símbolo de inteligência, que a enfermidade galopa em nome da velha obediência civil.

Sinval era um funcionário exemplar: não faltava, tinha MBA, não recusava serviço, adequadíssimo, a simpatia em pessoa. Tinha tudo para ser o eleito para a vaga de seu superior. E foi. Quanto mais subia de cargo, mais sapos engolia. Começou com uma leve dor de cabeça as segundas feiras. Procurou um neurologista, que com um exame não tardou a lhe dar a boa notícia:

– Não é nada Sinval…

Tomografia, com efeito placebo, sobre a cefaléia do rapaz.

Um mês depois procurou um gastroenterologista por conta de uma queimação no estômago. Gastrite leve, nada que um remedinho não resolvesse. Seis meses bem, foi ao endocrinologista, diagnóstico: obesidade. Dieta verde, dieta animal, academia e terapias…. Cinco idas ao pronto socorro por dores no peito e de barriga, só um mal estar e “virose”. Duas internações por cólica renal, uma resolvido com a explosão da pedra a outra nem cálculo encontraram… Finalmente decidiu procurar um psiquiatra que não tardou a lhe prescrever um antidepressivo. Momento este, o mais feliz da sua vida…

O empresário seguia feliz com seu bom salário e bom plano de saúde. O custo rateado pelos demais funcionários, não chamava a atenção.

O que não foi dito é que tudo isso era parte de um processo que iria resultar em doença de verdade, Sinval estava enfermo.

A enfermidade é um processo patológico presente ou não na doença. Um sofrimento, na forma de um ou mais sintomas. Ausência de bem estar percebido pelo indivíduo afetado ou por outros. Uma anormalidade de função ou comportamento, na qual a pessoa afetada não pode ser responsabilizada.

O progresso do sofrimento sem o rótulo da doença costuma não ter tratamento correto. O diagnóstico biológico, como princípio do tratamento afugenta a cura…

Finalmente para tranqüilidade dos médicos, que agora sabiam o que fazer e parentes do Sinval, que agora tinham pelo que pedir em suas orações, ele fez um aneurisma.

O que levou Sinval a adoecer?

Acreditem! Nosso sistema produtivo e cultural. A cultura da obediência para a sobrevivência, do valor vinculado a bens materiais como sinônimo de sucesso e prestígio social, das metas intangíveis pelo lucro, da dissimilação em nome da tolerância, da supressão emocional com intuito de diminuir a resistência a projetos individuais e organizacionais, da crítica persecutória voltada ao perfeccionismo utópico e da guerra fria pelo não comprometimento pessoal, estão transformando gente em doente. Uma carga que endurecem articulações, enfraquecem mentes e corações, explodem pequenos vasos sanguíneos, queimam estômagos, alteram menstruações, obstruem intestinos e exaurem corpos que doem…

A necessidade de uma visão de bem comum é urgente. O ser humano clama por boas intenções, negociações ganha – ganha, egos diminutos e inteligência criativa. Respeito total ao outro pela compreensão íntima de nossa fragilidade e interdependência. A percepção que o roubo é o único pecado. Em suas diferentes formas e variações transforma a verdadeira inteligência emocional, a do respeito, numa burrice glacial que acelera nossos corpos para o caus.

 

Cidão, Nux vômica

  • Fala, doutor!
  • Mas eu estou aqui para ouvir…

Na verdade, ele foi convidado pela sua esposa à consulta, uma sofisticada mulher que já se tratava comigo. Daí, tal apresentação. Foi quando, em meio à ausência de queixas, começou a contar sua vida:

  • Hoje tenho dinheiro, sou bem-sucedido no meu negócio e querido por meus familiares.
  • Mas, então, por que me procurar?
  • É minha mulher que diz que eu tenho sido grosseiro com ela. Mas também tenho que trabalhar quatro noites seguidas por semana, sem dormir… e por isso estou meio cansado.
  • Algum problema de saúde?

Esta pergunta era uma provocação, pois percebia seu orgulho e onipotência em descrever seus “sucessos”.

  • Não, nenhum, estou ótimo!

A incapacidade ou medo que alguns têm de não perceber ou não revelar limitações é, sem dúvida, um sinal de desequilíbrio, como já dissemos anteriormente, o fato de haver ou não uma doença com lesão tecidual já instalada, de fácil diagnóstico por exames é irrelevante neste momento:

  • E por que você não tira apenas umas férias?
  • Porque é o olho do dono que engorda o gado. Nesse meu negócio, se a gente não está de olho, dá comichão na mão dos outros…

Cansaço também é uma queixa comum a nós, trabalhadores, mas, freqüentemente, quando proferimos esta palavra, ela vem recheada de uma variedade de outros sentimentos como depressão, movida pela desmotivação, incapacidade de exercer a plenitude de sua vocação. Motivando minhas perguntas seguintes:

  • Mas o que você mais deseja na vida?
  • Paz, muita paz, doutor! Mas é o que eu menos consigo.
  • Mas o que você faz para conseguir isso?
  • Trabalho muito, minha vida inteira, sem dar moleza para minha sombra…
  • Mas é esse o seu problema!
  • Qual?
  • Você perdeu a sua sombra. Cresceu tanto que afinou como coqueiro e, por mais que bata sol, pouca sombra produz, sem refrescar ninguém…
  • É… Aquilo que a gente quer é mais caro do que aquilo que a gente tem, me dizia um consultor de empresas, cliente meu…
  • Mas o que você queria ser quando criança?
  • Ah! cantor de ópera…
  • E por que não foi atrás?
  • Faltava “dindim”. A fila é grande, doutor…
  • Quantos?
  • Minha mãe, meus três irmãos, seis sobrinhos, duas tias mais velhas, minhas duas mulheres, mais aquela outra e meus seis filhos, pelos quais sou apaixonado, fora os agregados que…
  • ..
  • Aparecem pedindo ajuda, nós arrumamos serviço para eles e aí acabam virando gente da família…
  • Mas você é novo, forte…

Fiz outra provocação para que ele tivesse um pouco de pena de si e se lançasse em sua defesa.

  • É, mas não é muito esperto o aleijado quebrar suas muletas na cabeça dos seus inimigos…
  • Aleijado?
  • Já não posso nem mais comer minhas lingüicinhas quentes, meu caviar, meu torresminho e freqüentar aquela cozinha mexicana picante que logo passo mal, com vontade de vomitar… Me dá logo uma angústia, pressão no peito que me deixa só e até o sexo sai prejudicado…
  • Sexo?
  • É com nossas mulheres, é claro…
  • A minha também?

Momento de descontração…

  • Que isso doutor, não prejudico ninguém casado! Na sociedade, as irmãs me chamam de Mel… Mas só eu sei a perturbação que passo…
  • Problemas graves, eu imagino!
  • Que nada, isso eu tiro de letra, mas vai que a maçaneta da porta lá de casa não abre ou não acho meu chinelo quando preciso dele, grito com o primeiro que aparece…
  • Também acredito que esteja claro para nós que, na hierarquia dos problemas humanos mais comuns, uma maçaneta emperrada e um chinelo perdido não constituem problema maior que dificuldades de ereção, isto é, uma reação superdimensionada, – provoquei.
  • Minha vontade é de matar quem tirou aquilo do lugar, esbofeteio o primeiro que diz não ser culpado. Posso até ser violento, mas sou justo. Esse negócio de piedade pra mim é só meia justiça. É melhor não me encostar quando estou nervoso…

De repente, decidiu contemporizar, falava como se não ouvisse ou entendesse o que dizia:

  • Mas, na verdade, sou um boêmio, gosto da noite, de um “uisquinho” e de uma boa cantoria. E o que a gente não faz quando a fala é mansa e o pedido é doce… Sou um sentimental! Todo mundo tem defeitos, agüento os dos outros, por que não podem agüentar os meus?

Foi então que decidi encerrar a consulta:

  • Sua sensibilidade é extraordinária e sofre pelo poder das mínimas mudanças que, para você, são como tempestades num copo d’água. Seu senso de justiça supera a dor a que tenha de se submeter. Sua generosidade e benevolência superam o racional. Posso lhe dar um conselho?
  • Claro, doutor!
  • ..
  • Menos o quê?
  • Menos tudo.
  • É… pode ser solução… Já estava querendo mesmo puxar o freio de mão.

Após a prescrição, sentia ainda que faltava algo a ser revelado quanto ao medicamento indicado, e logo ouviria embasbacado.

  • Aliás, o senhor não me disse seu nome!
  • Meus companheiros me chamam de Cidão.
  • Profissão?
  • Chefe da “boca” e do cassino aqui da região. Já vi que o doutor é sangue fino. É da paz… Continua suave que o senhor agora é meu protegido…

 

 

Poder: responsabilidade; desejo: de paz; medicamento: Nux vômica.